quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

audio descriçao.Desenho de Dona Baratinha, sorridente, com batom vermelho e sombra nos olhos, cabelo de cachinhos, usando vestido amarelo de bolinhas vermelhas e sapatos vermelhos, perfumando-se de frente para a janela. A contação de histórias é uma atividade que encanta crianças e adultos, pois permite uma viagem ao mundo da fantasia e da magia;  incentiva a formação de leitores, amplia a visão de mundo e resgata memórias da infância. Quem não se lembra da querida Dona Baratinha que tem fita no cabelo e dinheiro na caixinha? E do Pedro Malasartes, menino esperto sempre envolvido em confusões; de Chapeuzinho Vermelho, menina teimosa que contrariando as ordens da mãe segue pelo caminho da floresta? Ouvir histórias e poder transportar-se para o reino do faz de conta, encontrar-se com os personagens, entrar nos cenários onde as histórias se passam, perceber detalhes, encantar-se pelo colorido das páginas dos livros, com as feições delicadas ou grosseiras dos personagens, saber como estão vestidos e poder trazê-los para o cotidiano, tudo isso pode e deve ser possível para todos os públicos e não somente para as pessoas que enxergam. Também as pessoas com deficiência visual apreciam escutar histórias e conhecer detalhes de figurino, cenário e objetos que, muitas vezes, são utilizados durante a contação e que estão presentes nos livros de histórias, sempre, ricamente ilustrados. Para isso, os contadores precisam transformar as imagens de suas histórias e todos os outros recursos visuais que utilizam durante a contação em palavras. Precisam conhecer a audiodescrição, um recurso de acessibilidade que amplia o entendimento das pessoas com deficiência visual em eventos culturais (peças de teatro, programas de TV, exposições, mostras, musicais, óperas, desfiles, espetáculos de dança), turísticos (passeios, visitas), esportivos (jogos, lutas, competições), acadêmicos (palestras, seminários, congressos, aulas, feiras de ciências, experimentos científicos, histórias) e outros, por meio de informação sonora. Transforma o visual em verbal, abrindo possibilidades maiores de acesso à cultura e à informação, contribuindo para a inclusão cultural, social e escolar. Além das pessoas com deficiência visual, a audiodescrição amplia também o entendimento de pessoas com deficiência intelectual, idosos e disléxicos.Na contação de histórias, a audiodescrição permitirá que as pessoas com deficiência visual construam imagens mentais, e que literalmente visualizem todos os elementos que fazem parte da história. As ilustrações são impregnadas de significados e traduzí-las em palavras completa o próprio texto, traz mais cores e encantamento para a história. Chamar a atenção de todos para os recursos imagéticos, e não somente das pessoas com deficiência visual, usando mais elementos descritivos durante a contação, certamente, será um diferencial para quem participa da atividade. Pessoas sem deficiência que assistem a algum evento ou espetáculo com audiodescrição afirmam que o recurso aumenta a compreensão, mostra e desvela detalhes que passariam despercebidos. Pessoas com deficiência visual que perderam a visão depois de adultos afirmam que a audiodescrição devolve o prazer de assistir a espetáculos audiovisuais. E para aquelas que já nasceram cegas, o recurso abre janelas e permite um conhecimento maior de mundo.Para os audiodescritores, a audiodescrição aumenta a fluência verbal, o senso de observação, o repertório cultural, o acervo de palavras. Também os contadores, muito poderão se beneficiar com práticas mais descritivas, pois, assim como os audiodescritores, ampliarão seu repertório lingüístico e poderão pintar com cores muito mais coloridas as suas histórias.A elaboração de um roteiro com a verbalização do visual ajuda a caracterizar personagens, a buscar vocabulário, as palavras certas para descrever aquele moço alto, de cabelos pretos ondulados, penteados para trás, vestindo casaco longo cinza chumbo sobre camisa branca de gola pontuda, calça preta bem justa com riscas douradas, e botas pretas até os joelhos.  E buscar mais e mais palavras para descrever cenários, cores e texturas, grama verdinha e árvores frondosas; cavalos, camelos e dragões. Em espetáculos como peças de teatro, óperas, musicais, shows e outros, a caracterização física de personagens, cenários, figurinos, movimentos, expressões faciais, entrada e saída em cena e as próprias ações, tudo isso é verbalizado em roteiros previamente elaborados e chega até a pessoa com deficiência visual por meio de fones de ouvido. Para isso, são utilizados os mesmos equipamentos da tradução simultânea: retransmissores e fones de ouvido. O audiodescritor fica dentro de uma cabine, seguindo um roteiro previamente elaborado, e as pessoas com deficiência visual na plateia com fones, o que não interfere nem atrapalha outros espectadores, como acontece quando alguém fica falando durante o espetáculo. Já em filmes, documentários, programas de TV, comerciais, vídeo clipes, a trilha de audiodescrição poderá ser gravada e mixada ao som original. Na contação de histórias, é possível contar com a presença de um audiodescritor para traduzir todos os elementos visuais. Entretanto se o próprio contador, ciente da necessidade de fazer chegar a sua arte também a outros públicos, ele mesmo puder inserir a descrição para complementar a sua história, isso será ainda mais rico e proveitoso. Dona Baratinha, com seu vestido amarelo de bolas vermelhas, cabelos repartidos ao meio com cachinhos presos com fita vermelha, perfumando-se diante da janela aberta, a espera de seu pretendente, ganhará mais vida e habitará com muito mais força o imaginário de crianças com deficiência visual e também das crianças que enxergam. Nos audiolivros de histórias, a audiodescrição será essencial e transformará todas as imagens em palavras. Não há como não usar o recurso e adiar o acesso ao mundo imagético para tantos!!!Convido, portanto, os contadores a experimentarem a emoção de transformar o visual em verbal, tornando suas histórias e sua maravilhosa arte acessíveis a crianças e adultos com deficiência visual.

Nenhum comentário:

Postar um comentário