sábado, 7 de abril de 2012

LinguagemdoAmor O metrô do Rio tem colocado uns passarinhos para cantar no sistema de som, e sabe que eu gosto? Tem qualquer coisa de tranquilizante naquele barulho de floresta em plena estação cheia de gente com pressa. Outro dia de manhã, não ouvi os passarinhos, mas uma criança gritando. Alto. Birra, pura birra. Quando cheguei à plataforma, vi a mãe brigando com ele. Em libras. Eles estavam discutindo na linguagem usada pelas pessoas com deficiência auditiva. O menino insistia e a mãe, em gestos firmes e voz idem, disse “che-ga!”. Aí eu entendi. Você pode imaginar: quando um menino de 8 anos presumíveis grita, todo mundo olha. Quando ele emite urros, e não palavras, as pessoas olham mais demoradamente, o que é um incômodo, até para quem olhou sem querer. Lembrei de um texto lindo que Martha Mendonça fez aqui certa vez sobre uma outra situação . Naquele episódio, era fácil imaginar que, independente do motivo do confronto, havia uma mulher tentando dar um basta no exagero, porque crianças tendem ao exagero se não estipularmos certos limites. Ele entrou no vagão fazendo um bico enorme e, confesso, mentalmente eu ri, porque lembrei de mim. Contrariada quando criança, eu sentia que meus músculos labiais adquiriam vontade própria e ficavam ali, forçados, a fim de mostrar ao mundo o tamanho da minha chateação. Era o auge da minha rebeldia. A mãe do menino, naturalmente, estava danada da vida. Até que o bico dele foi diminuindo, o cenho franzido esvanecendo e o lábio voltando para o lugar. Ele sentou primeiro, mas logo levantou, sem ser solicitado, cedeu a cadeira para a mãe, que o botou no colo. Segurou-o pela cintura, aproximou-o mais de si, com um gesto de carinho ajeitou qualquer coisa no cabelo dele e apoiou ligeiramente o queixo no ombro do garoto. Não havia mais discussão e, ouso dizer, nem raiva no ar. A querela havia terminado, do nada. Eu não tenho ideia do motivo da macriação porque não entendo libras. Mas a mãe que aprendeu os sinais para se comunicar com o filho, que briga e bota no colo depois, fala a linguagem de todos nós que amamos e somos pais. É a linguagem que dá título ao post de hoje. Feliz Páscoa a todos vocês.

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